Naturalismo. A história conta de Lenita, uma
garota especial inteligente e cheia de vida cuja mãe morrera em seu nascimento.
Aos 22 anos após a morte de seu pai torna-se uma jovem sensível. Lenita decide
morar na fazenda do coronel, velho que havia criado seu pai. Lá conhece Manuel
Barbosa, o filho do coronel, homem já maduro, separado há muito tempo de uma
francesa.
Lenita firmara uma amizade com
Manuel que aos poucos se revelou uma louca paixão, no início repelida por
ambos, mas depois consolidada com o forte desejo da carne. Narra a ardente
trajetória desse romance marcado por encontro e desencontros, desejos e
sadismo, batalha entre mente e carne.
Até que um dia Lenita encontra
cartas de outras mulheres guardadas por Manuel e sente-se traída, abandona-o
mesmo estando grávida de três meses e casa-se com outro homem. Manuel
suicida-se, o que comprova o resultado final da batalha "MENTE x
CARNE".
A
Mão e a Luva - Machado de Assis
A
Mão e a Luva, segundo romance de
Machado de Assis (1839-1905), foi publicado em folhetim em 1874. Obra da
mocidade e própria da estética em voga, o Romantismo, gira em torno de um caso
complicado - mas de solução simples e previsível - de namoro dentro dos mais
rigorosos esquemas burgueses. Guiomar, a heroína, tem a sua volta três
pretendentes: Estevão, sentimental; Jorge, calculista; Luís Alves, ambicioso. A
estes três junta-se a baronesa, sob cuja proteção encontra-se a órfã Guiomar e
a inglesa Mrs. Oswald, dama de companhia.
Embora
nitidamente romântico, A Mão e a Luva é um romance sóbrio. Seu ponto alto são
as personagens femininas: Guiomar pela complexidade de seu caráter, Mrs. Oswald
pela astúcia e verossimilhança. Um romance instigante daquele que é um dos
maiores escritores da língua portuguesa e autor dos clássicos e geniais Dom
Casmurro e Memórias póstumas de Brás Cubas.
Narra
a história de
Guiomar, moça altiva e segura de si, que procura, com frieza e calculismo,
realizar o ambicioso plano de ascender socialmente, compensando a sua modesta
origem. A obra relata com ironia o casamento, visto como troca de favores e
movido pelo dinheiro e pela ambição.
Bom-Crioulo (Adolfo Caminha)
Naturalismo/Realismo. Bom-Crioulo é o
apelido de Amaro, escravo fugido que se torna marinheiro. Ele desenvolve um
relacionamento homossexual com Aleixo, jovem grumete. Eles arranjam um sótão
para seus encontros na casa de Carolina, amiga de Amaro. Quando este é
transferido, passam a se desencontrar e Carolina seduz Aleixo. Amaro, que
estava hospitalizado, doente e fraco quando antes era forte, descobre que ele
havia se tornado amante de Carolina e mata-o. Nem homófobo nem homófilo, este
romance apresenta a imparcialidade naturalista típica. O relacionamento dos
dois é retratado como outro qualquer e Aleixo é sempre descrito como
"feminino", tornando-se "masculino" só após algum tempo
como amante de Carolina.
Helena (Machado de Assis)
Por Marla Rodrigues
O conselheiro Vale
havia falecido, era uma grande perda. Ele era um homem admirável, pertencente à
elite. Restaram apenas Estácio, seu filho, e D. Úrsula, sua irmã. Depois da morte,
Dr.Camargo, amigo da família, tentou
preveni-los sobre o conteúdo do testamento, deixando-os mais preparados para
certa cláusula presente no documento.
Quando o
testamento foi aberto, os bens foram entregues aos herdeiros, algumas coisas
foram destinadas a afilhados e uma filha, Helena, fora reconhecida. O
conselheiro a reconhecia, dividia entre ela e Estácio os bens herdados e pedia
para que a menina fosse recebida e tratada como nova integrante da família.
Estácio, devido a seu caráter, aceitou a irmã instantaneamente, mas sua tia e
Dr. Camargo eram contrários à ideia.
Helena chegou à
casa em Andaraí. Estácio a recebeu e logo se tornaram íntimos e amigos.
D.Úrsula se mantinha desligada da moça. Passou a ceder, aos poucos, aos
encantos de Helena, mas enterneceu-se de vez quando, ao adoecer, viu a menina
cuidar da casa e de seu leito. Dr. Camargo, no entanto, mantinha sua opinião e
por isso ele e Helena não se davam bem.
Em um dia, Estácio
e ela saíram em uma cavalgada. Quando passaram por uma casinha simples onde uma
bandeira azul enfeitava o telhado, Helena buscou saber quem morava ali, mas não
teve sucesso, e assim eles voltaram para casa.
Eles seguiam a
vida. Estácio vinha já há algum tempo planejando pedir a mão de Eugênia, filha
de Dr. Camargo, em casamento. Helena encorajava-o, mas ele não tomava atitude.
Foi também nesses tempos que Estácio viu Helena receber uma carta que lhe
despertou um grande interesse, pensava que a irmã vivia um romance e a ideia
não lhe agradava. Foi por essa curiosidade que arrancou dela uma confissão:
amava a alguém e amava muito.
No aniversário de
Estácio, Helena deu a ele um quadro onde pintara o caminho que fizeram naquela
primeira cavalgada e a casa da bandeira azul, mas mais tarde a presença daquela casa
perturbou Estácio. À noite foi oferecido
um baile a ele. Já quase no final da comemoração, Dr. Camargo teve com Helena e
revelou-lhe o desejo de ver Eugênia casada com seu irmão, e usou isto para chantageá-la, referindo-se às
idas dela à casa da bandeira azul.
Logo nos dias seguintes Estácio e Eugênia
ficaram noivos. Seguido do noivado, uma tia de Eugênia adoeceu e ela,
juntamente com a família, tinha que visitá-la. No entanto, Eugênia só se dispôs
a ir depois que Estácio, vendo-se forçado, aceitou ir com eles. Para ele era um
tremendo sacrifício separar-se de Helena, sua tia e sua casa. Nos dias em que
ele se ausentou, Helena ficou noiva.
O noivo era
Mendonça, amigo de Estácio e recém-chegado da Europa. Ele era filho de um
comerciante, não tinha riquezas, mas amava Helena. Ela aceitou o noivado mesmo
não gostando tanto dele. Quando o noivado foi concretizado, Mendonça escreveu a
Estácio contando a novidade e ele voltou para casa rapidamente. O casamento lhe
agradava um pouco, mas a confissão de tempos atrás de Helena influenciava sua
resolução quanto a conceder a mão da irmã ao amigo.
Helena queria o
casamento, julgava sua paixão confessada impossível e assim preferia o certo ao
duvidoso. No entanto, Estácio não se sentia confortável com tal situação. A
esse ponto Mendonça já se sentia desinteressado pelo casamento, pois surgiram
insinuações de que estaria se casando por interesse.
Durante tais
conflitos, Estácio viu, numa manhã em que saiu para caçar, Helena saindo da
casa da bandeira azul. Surpreso, escondeu-se e, depois que ela foi embora, foi
até a casa em que ela acabara de sair. Quando se escondera, cortara a mão e
usou isso como pretexto para conhecer o morador da casa. Conversaram enquanto
ele tratava do corte e um pouco mais depois.
Quando Estácio foi embora, acreditava que havia se enganado com Helena. O padre
Melchior foi chamado e as relações na casa se tornaram tensas. Estácio duvidava
dos atos de Helena, não sabia o que pensar sobre o que acontecia. Melchior foi
o primeiro a entender, Estácio amava Helena e descobrir os encontros dela com
aquele homem o abalou.
Logo a verdade foi
revelada. O homem que habitava aquela casa tratava-se do pai de Helena,
Salvador. A história de Helena era a seguinte: Ângela e Salvador fugiram para
poderem viver seu romance e da união dos dois nascera Helena. Quando o pai de
Salvador adoeceu, ele viajou para poder vê-lo, mas quando voltou para sua casa
não encontrou sua mulher nem sua filha. Ângela havia se apaixonado pelo
conselheiro Vale e agora vivia numa casa mantida por ele. O conselheiro tomara
Helena como filha, pois acreditava que Salvador estava morto.
Com a morte de Ângela, Helena morava na escola e recebia visitas do
conselheiro. Durante este tempo, Salvador subornava uma escrava da escola e
assim ele e a filha mantiveram contato. Quando o conselheiro morreu e Helena
foi reconhecida, ela quis revelar a verdade, mas Salvador sabia da condição de
vida que teria a filha vivendo com ele. Por esse motivo, mandou Helena para ir
viver na casa de Andaraí e os dois se encontravam sempre que era possível.
Diante tais revelações, Estácio preferiu deixar a situação como era. Eles agora
podiam viver o amor que nutriam um pelo outro, mas provar que não eram irmãos
seria desastroso demais. Nos dias seguintes o casamento de Helena com Mendonça
ressurgiu, mas ela adoecera. Ela foi tratada, mas não surtia efeitos. Estácio
havia decidido buscar pelo pai da “irmã”, que havia ido embora para que a
menina seguisse com a vida, mas não foi preciso. Helena falecera, e, no
instante em que ficara a sós com a falecida, Estácio deu-lhe o primeiro beijo
de amor e partiu. Quando chegou em casa, conclui ao padre: perdera tudo.

Naturalismo. O Cortiço conta principalmente
duas histórias: a de João Romão e Miranda, dois comerciantes, o primeiro o
avarento dono do cortiço, que vive com uma escrava ao qual ele mente liberdade.
Com o tempo sua inveja de Miranda, menos rico mas mais fino, com um casamento
de fachada, leva-o a querer se casar com sua filha (e tornar-se Barão no
futuro, tal qual Miranda se torna no meio da história). Isto faz com que ele se
refine e mais tarde tente devolver Bertoleza, a escrava, a seu antigo dono (ela
se mata antes de perder a liberdade). A outra história é a de Jerônimo e Rita
Baiana, o primeiro um trabalhador português que é seduzido pela Baiana e vai se
abrasileirando. Acaba por abandonar a mulher, parar de pagar a escola da filha
e matar o ex-amante de Rita Baiana. No pano de fundo existem várias histórias
secundárias, notavelmente as de Pombinha, Leocádia e Machona, assim como a do
próprio cortiço, que parece adquirir vida própria como personagem.

Naturalismo. A história é sobre o amor de
Ana Rosa e seu primo Raimundo, impedido belas barreiras do preconceito racial
contra Raimundo, que é mulato. Raimundo é rejeitado, ignorado e maltratado pela
sociedade do Maranhão (onde a história se passa), mas ainda assim seu amor e o
de Ana Rosa florescem. Após certo tempo Raimundo propõe a Manoel, seu tio e pai
de Ana, que eles se casassem, mas este recusa apenas baseado no fato de que
Raimundo é um mulato. Ante a esse fato Raimundo recua transtornado enquanto
Ana, mesma com hesitações, tenta recuperá-lo, mesmo sem entender o motivo da
separação no começo. Ele recobra os ânimos e eles decidem fugir, mas são pegos.
Após uma discussão sobre o que fazer do futuro de Ana Rosa (um empregado de seu
pai era seu noivo a contragosto dela), ela revela estar grávida de Raimundo.
Isso escandaliza a avó (extremamente preconceituosa e uma das maiores barreiras
para este amor), estranha ao noivo e deixa o pai descrente dos fatos. O único
que não se surpreende com a revelação é o cônego Diogo, confidente de Ana Rosa,
amante da esposa do pai de Raimundo quando o casal era vivo, e executor do pai
de Raimundo. Diogo é preconceituoso e manipulador; odeia Raimundo por este ser
mulato e maçom. Quando era amante de Quitéria, esposa de José, pai de Raimundo,
obrigou José a não revelar nada quando este esganou a esposa (preconceituosa,
ela torturava escravos e negros forros como a mãe de Raimundo, Domingas) ao
achá-la em adultério. Padrinho de Ana Rosa, ele exerce seu poder de influência
muito habilidosamente e protege Dias, o noivo de Ana. Quando após o fatídico
encontro eles se retiram, Diogo convence Dias a matar Raimundo e dá-lhe a arma
do crime. Dias mata Raimundo relutantemente e o crime passa por todos na
impressão geral de ter sido suicídio. Quando Ana descobre tem um aborto. Seis
anos depois mostra-se o destino de várias personagens secundárias e o de Ana e
sua família. A avó Maria Bárbara e o pai Manoel (que tinha o apelido de
Pescada) morreram e ela e Dias aparecem casados e bem, com três filhos; ela
comporta-se amorosamente com o marido, executor de seu antigo amado, que antes
detestava. Ainda cheio de vícios românticos (maniqueísmo, herói e heroína
perfeitos, vilões cruéis, supervalorização do amor, o mistério e o suspense
comuns aos românticos), esta obra prevalece como naturalista pois a visão de
mundo é naturalista, existe um forte Determinismo e o herói, assim como o
autor, é positivista.

Basílio, primo de Luísa, está para chegar à
cidade. Luísa é uma linda mulher que gosta de ler romances e passou a infância
e o primeiro namoro com o primo que era moço rico, mas se tornou pobre e veio
ao Brasil, onde reconstituiu a riqueza e esteve viajando pela Europa. Luísa
trocava correspondências com Basílio e, após a partida dele, conheceu Jorge,
que de início não a agradou fisicamente, mas que resolveu casar quando ele
falou: "Vamos casar, hein!". Jorge é Engenheiro de Minas e, durante o
verão no Norte, passa um período de trabalho fora de casa em São Domingos.
Luísa é comportada, amiga íntima de Leopoldina, uma moça casada com João
Noronha, empregado da Alfândega, mas Jorge não gosta muito dessa amizade.
Embora sempre com pessoas por perto, Conselheiro Acácio, "modelo de
mediocridade pomposa e satisfeita consigo mesma", Sebastião, D.
Felicidade, Juliana, Joana etc., Luísa não resiste aos encantos do primo
Basílio e acaba relacionando-se na ausência do marido na recém-chegada do
antigo namorado a Lisboa. Juliana, criada de Luísa, consegue adquirir cartas
românticas que demonstravam o relacionamento dos primos e inicia uma chantagem.
Juliana esgota Luísa, faz a "madame burguesa" passar por todos os
apertos de ser empregada, Basílio desaparece e deixa a amante aos planos de
Juliana. Luísa busca uma maneira de adquirir as cartas e consegue via
Sebastião, um amigo da família. Jorge chega do período de trabalho em São
Domingos. Luísa acaba por adoecer e morrer e Jorge descobre a infidelidade da
esposa.
Autor(a): Rafael Araújo, Marcelino Alves
Considerado romance
realista-naturalista, tem como objetivo a crítica à sociedade portuguesa,
caracterizando-se pelos ataques ao clero e ao provincianismo: o autor não
apenas apresenta denúncias sobre a devassidão do clero, mas sobre a vida
mesquinha da cidade provinciana portuguesa.
Por isso, não
apenas as personagens centrais, mas todas as demais são utilizadas pelo autor
para revelar os comportamentos equivocados da sociedade portuguesa da época.
Além disso, toda a trama é permeada pela idéia de que o homem é fruto do meio
em que vive, o qual molda o seu caráter, determinando sua forma de pensar e de
agir.
Trata-se da
história de Amaro Vieira, filho de dois criados do marquês de Alegros que,
órfão ainda criança, é educado em meio à criadagem da marquesa (o que o
tornaria enredador e mentiroso).
Apesar de não
apresentar nenhuma vocação para o sacerdócio, por decisão da marquesa, sua
formação toma essa direção e é ordenado padre. É nomeado pároco de uma pequena
vila de Leiria e, ao assumir sua paróquia, hospeda-se na casa da Senhora
Joaneira, concubina do Cônego Dias, que tem uma filha, Amélia.
Padre Amaro acaba por
envolver-se sexualmente com Amélia - noiva de João Eduardo - que, por viver num
ambiente de corrupção e imoralidade, deixa-se, facilmente, seduzir pelo padre.
O padre então conhece o cinismo de seus colegas que, em nada, estranham seu
envolvimento com Amélia.
O romance dos dois
vem à tona quando o noivo de Amélia, movido pelo ciúme e pela desconfiança,
escreve um "comunicado" no jornal local, onde revela as relações
amorosas dos padres da região, criticando suas atitudes hipócritas e
pecaminosas de rompimento com os votos do celibato.
O polêmico artigo
provoca o rompimento do noivado e Amélia torna-se exclusivamente amante do
Padre. Ela acaba engravidando e, durante a gravidez, esconde-se na quinta da
irmã do Cônego Dias. Nesse período, fica sob os cuidados do Abade Ferrão, único
padre decente da trama, que tenta recuperá-la para um vida normal, tirando-a da
influência do Padre Amaro.
Antes disso, porém,
Amélia morre de parto. Padre Amaro entrega o filho a uma "tecedeira de
anjos" e a criança é morta. Depois disso, ele prossegue a vida religiosa
tratando, a partir de então, de ser mais "cuidadoso" em suas
aventuras, assumindo seu cinismo, definitivamente.
Sua história
Como dissemos,
"O Crime do Padre Amaro" tem uma história muito curiosa: dele são
conhecidas três versões.
A primeira
delas data de 1875, quando o escritor exerceu as funções de administrador do
Conselho de Leiria, local onde se passa a história do romance.
Essa versão foi
publicada precocemente na Revista Ocidental, por Antero de Quental e Jaime
Batalha, sem a autorização do autor, que desejava, como revelou numa carta
escrita para Batalha Reis, em 8 de fevereiro de 1875, rever e melhorar o seu
texto.
Nela ainda não se
podem sentir as influências do naturalismo: trata-se de uma obra um tanto quanto
lúgubre, caracterizada por um romantismo melodramático. Esse tom revela-se na
caracterização de Amaro, o personagem principal da trama e na falta de uma
relação mais clara entre personagem, suas ações e o meio ambiente. Revela-se,
ainda, no fato de, ao final do romance, o Padre Amaro matar por afogamento o
filho que teve com Amélia.
No entanto, já
nessa primeira versão encontra-se presente uma crítica social contundente,
sobretudo no que se refere ao sacerdócio.
A segunda
versão, de 1876, já apresenta traços do naturalismo: há um despojamento do
retrato de Amaro (bastante romântico na primeira versão); a influência do meio
nas atitudes do personagem aparece com maior clareza; e há um maior cuidado do
autor na apresentação de pormenores de crueldade e de falta de pudor do
personagem.
Essa versão é
bastante criticada, inclusive por Machado de Assis, devido ao excesso de
pormenores e temas chocantes: Eça revela uma crueza acentuada e extremamente
rude na descrição, sobretudo na cena do amortalhamento de Amélia, onde o relato
prevê tanto a presença de uma mosca que zune sobre o corpo, entre as luzes,
quanto uma forte alfinetada da velha do saiote negro no corpo inerte de Amélia.
Essa cena foi suprimida da terceira versão.
Na terceira
versão (1880), posterior à publicação de O Primo Basílio, o escritor aprofunda
a discussão sobre os fatores sociais como determinantes das atitudes das
personagens, sobre o sacerdócio sem vocação verdadeira e sobre a educação
religiosa da época, que alçava o religioso à condição divina.
A obra passa a ter
uma intriga que revela uma relação mais harmoniosa com o ambiente, a formação e
a hereditariedade. A subjetividade dos personagens é mais focalizada (como a
auto-análise de Amélia no capítulo V), desaparecendo, sutilmente, o narrador
onisciente e onipotente como centralizador da trama.
É a versão mais
equilibrada, da qual são excluídos elementos inverossímeis como o infanticídio
de Amaro, pois na época, em Portugal, os padres criavam seus filhos de maneira
paternal. Nela, em vez de a criança morrer assassinada tragicamente - como nas
versões anteriores - Padre Amaro, no último momento, tenta fazer com que a
tecedeira de anjos não execute o seu pedido. Porém, como não consegue, esquece
o ocorrido e segue a sua vida normalmente.
Há quem diga que
Eça incorporou a essa versão a crítica feita por Machado de Assis a "O
Primo Basílio" e à segunda versão de "O Crime do Padre Amaro".
Nessa versão, ultrapassando as preocupações típicas do naturalismo, Eça
incorpora no final da obra uma preocupação com o destino histórico do país, e
não apenas com os aspectos psicossomáticos das personagens.
Texto original: Kátia Lomba Bräkling
Revisão: Equipe EducaRede
Quincas Borba
Por Machado de Assis
Realismo.
Continuação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba conta a história
do ex-professor primário Pedro Rubião de Alvarenga, que após cuidar do filósofo
Quincas Borba até a morte, recebe dele toda a fortuna sob a condição de tomar
conta do cachorro, que também tem o nome de Quincas Borba. Rubião muda-se então
para o Rio. No caminho conhece o casal Sofia e Cristiano Palha. Apaixonado por
Sofia e ingênuo, Rubião vai sendo explorado e aproveitado por todos os amigos,
que lhe tomam dinheiro emprestado, lhe pedem favores, jantam em sua casa mesmo
quando ele não está, etc. Vai envolvendo-se sem sucesso com a política e
perdendo muito dinheiro com gastos exagerados e empréstimos. Cristiano e Sofia
(que não corresponde o amor) vão se aproveitando dele muito mais,
subtraindo-lhe a fortuna, saindo do estado original de dívidas para um de
opulência no final. A medida que o tempo passa, a decadência material e o
desespero de não ter correspondido seu amor leva Rubião a enlouquecer. Enquanto
no começo travava "discussões" com Quincas Borba (o cão), depois
começa a pensar ser Napoleão III e Sofia sua esposa Eugênia. Passa a nomear
todos nobres e generais, ter visões, falar sozinho. Quando ao final é internado
num manicômio, sua fortuna não é mais 1% do que antes fora. Ele foge do
manicômio e volta para Barbacena, de onde saíra após enriquecer, levando apenas
Quincas Borba. Enlouquecido e pobre, é recolhido pela comadre e morre louco,
corando-se Napoleão III, repetindo incessantemente nos seus últimos dias a
célebre frase "Ao vencedor, as batatas!" Narrado em terceira pessoa,
cheio de ironia sofisticada, uma personagem feminina dissimulada, uma dúvida
constante (Quincas Borba é o título por causa do cão ou do filósofo?), esta é
uma das melhores e mais famosas obras de Machado de Assis.

O conto sem final
feliz foi publicado por Machado de Assis em 1896 em Várias Histórias. O livro é
representativo da segunda fase do escritor, que abandonou o Romantismo para
inaugurar o Realismo.
Os textos da
segunda fase de Machado de Assis se caracterizam pela introspecção, pelo humor
e pelo pessimismo com relação à essência do homem e seu relacionamento com o
mundo. A Cartomante é exemplo disso. Na trama, Rita, Camilo e Vilela se
envolvem num triângulo amoroso trágico. Traição, adultério e paixão permeiam a
narrativa.
O conto de
Machado de Assis começa com uma menção a Hamlet, de Shakespeare. A famosa frase
“há mais cousas no céu e na terra do que sonha nossa filosofia” abre a obra. A
personagem Rita, em outras palavras, diz o mesmo. Frente a isso, que tal propor
aos alunos a seguinte discussão: porque Machado de Assis teria escolhido a
célebre frase de Shakespeare para iniciar a obra? Qual o sentido desse
pensamento, no contexto do conto?
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Por Machado de Assis
Realismo. A história é narrada por Brás
Cubas, um defunto autor que após narrar sua morte e funeral começa a contar a
sua vida. Conta a infância, as travessuras, o primeiro namoro com Marcela
(interesseira e bela, fica pobre e feia), um namoro com Eugênia (que acaba
pobre) e mais tarde seu noivado com Virgília. Como Virgília casa com outro eles
mais tarde se tornam amantes. O romance era ajudado por Dona Plácida (que
também morre pobre) e acaba quando esta vai para o Norte com o marido. Conta
então seu reencontro com o amigo Quincas Borba (primeiro na miséria, depois
rico, depois miserável e louco), que lhe expõem sua filosofia, o Humanitismo.
Cubas passa seguir o Humanitismo. Já deputado, não se reelege ou se torna
ministro e funda um jornal de oposição baseado no Humanitismo. Mais velho se
volta para a caridade e morre logo após criar um emplasto que curaria a
hipocondria e lhe traria fama.
Dom Casmurro
Por
Machado de Assis
Realismo. A
história toda se passa no Rio de Janeiro do Segundo Império e conta a história
de Bento e Capitolina, esta sendo descrita por José Dias, agregado da mãe de
Bento, como tendo "olhos de cigana"; a infância, onde surge a paixão
com Capitu, primeiro estranha e depois mais bem definida, a juventude de Bento
no Seminário ao lado de Escobar, seu melhor amigo até a morte deste por
afogamento, o casamento de Bentinho e Capitu, após a mãe deste cumprir a
promessa de enviar um rapaz ao serviço da Igreja mandando um
"enjeitadinho" ao seminário no lugar de Bento e a separação devido ao
ciúme de Bentinho por Capitu com Escobar, mesmo depois deste morrer. Ele manda
então a esposa e seu filho para a Europa por causa do ciúme, quase matando-os
antes envenenados. Seu encontro com o filho, muitos anos mais tarde, é frio e
distante, já que a todo o instante ele o compara com Escobar, seu melhor amigo
que ele achava o ter traído e ser o pai do então já jovem estudante de
Arqueologia, que falece, meses depois numa escavação no estrangeiro, sem jamais
ver o pai novamente. Um romance psicológico, sob o ponto de vista de Bentinho,
nunca se tem certeza de que Capitolina traiu-o ou não. A favor da tese da traição
existe o fato que Bento sempre parece falar a verdade, as semelhanças achadas
por Bento entre seu filho e Escobar e o fato que os outros descreviam Capitu
como maliciosa quando esta era jovem. Contra a tese existe que Capitu reclamou
de seu ciúme e nunca efetivamente fez muita coisa que desse motivo de suspeita,
exceto uma vez em que manteve um segredo com Escobar, que era casado. Este
humilde escritor acha que Bento não foi traído, mas isso é essencialmente
pessoal.
Luzia-Homem, por Domingos Olímpio - Naturalismo. Luzia-Homem é um exemplo do
Naturalismo regionalista. Passado no interior do Ceará, nos fins de 1878,
durante uma grande seca, vai contando a história da retirante Luzia, mulher
arredia, de grande força física (o apelido Luzia-Homem provém desta força que
lhe permitia trabalhar melhor que homens fortes). Luzia trabalha na construção
de uma prisão e é desejada pelo soldado Capriúna. Mas Luzia não se interessa
por amores e mantém uma relação de amizade e ajuda mútua com Alexandre. Após
Alexandre propor-lhe casamento (existe por toda a história a relutância de
Luzia de admitir que gosta de Alexandre), este é preso por roubar o armazém do
qual era guarda. Luzia passa visitar-lhe na prisão e sua amiga, a alegre
Teresinha, para cuidar de sua mãe doente. Após um certo tempo, Luzia para de
lhe visitar na prisão. Ao fim Teresinha descobre que Capriúna era o verdadeiro
ladrão e uma das assistentes de Luzia (ela havia sido dispensada e depois
voltara ao trabalho, mas como costureira) lhe falar que a testemunha contra
Alexandre mentia, o culpado é preso. A família de Teresinha aparece (ela havia
fugido de casa com um amante que morreu meses depois) e ela, humilhada fica
subserviente a eles, especialmente ao pai que a rejeita. Luzia descobre isto e,
depois de um interlúdio, convence-a a viajar com ela, migrando para o litoral.
No caminho Capriúna se liberta e vai ataca Teresinha, a culpada de sua prisão.
Encontrando Luzia, mata-a e acaba caindo de um desfiladeiro. Marcado pela fala
característica dos personagens, Luzia-Homem mantém duas características
clássicas do Naturalismo por toda obra: o cientificismo na linguagem do
narrador e o determinismo (teoria de que o homem é definido pelo meio).
A
Confissão de Lúcio
Título: A
Confissão de Lúcio
Autor: Mario de Sá-Carneiro
Sinopse*: "A
Confissão de Lúcio", considerada a mais importante obra de Mário de
Sá-Carneiro, tem como base o triângulo amoroso entre Lúcio, o seu amigo Ricardo
de Loureiro e a mulher deste, Marta. Nesta novela escrita em forma de policial,
o narrador, Lúcio, confessa a sua inocência depois de ter passado dez anos na
prisão acusado da morte de Ricardo, ocorrida em circunstâncias misteriosas e da
qual a única testemunha é o próprio Lúcio. Obra vanguardista, nela se encontram
algumas das obsessões do autor: o amor pervertido, o suicídio, o sentimento de
incompletude e de alienação do eu que lhe conferiram uma aura de poeta maldito.