A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo – “Este romance merece atenção
do estudante, por ser considerado o primeiro romance romântico brasileiro. Na
obra, Augusto sente-se preso a uma promessa de amor feita anos atrás, o que o
torna inconstante frente a outras possibilidades de relacionamento. Ao se
apaixonar por Carolina, ele tem a doce surpresa: ela era a menina com quem havia
trocado juras de amor no passado e que considerava digna de seu amor”.
O romance A Moreninha foi publicado no mesmo ano em que
Joaquim Manuel de Macedo se formou em Medicina [1844] e se passa no Estado do
Rio de Janeiro. O autor nunca menciona o local em que se passa, exceto
pela expressão: Ilha de… Desde o século XIX, no entanto, que a Ilha de Paquetá,
principal ilha do arquipélago de Paquetá na Baía de Guanabara, localizada a 15
km do centro histórico da cidade do Rio de Janeiro, é associada com este
romance. O nome Paquetá, de origem indígena significa “lugar com
muitas pacas”. A ilha foi descoberta por
André Thevet da expedição de Villegagnon em 1555, quando a França tentava
instituir no Rio de Janeiro a França Antártica. A partir de 1838 a ilha
esteve ligada ao Rio de Janeiro por uma linha regular de barcas, estabelecida
pela preferência da corte portuguesa, D. João VI em particular, por passeios no
lugar. Com este tipo de clientela e depois do sucesso do romance de
Joaquim Manuel de Macedo, a ilha passou a se tornar um local de atividade
turística e aos poucos, através dos anos foi perdendo sua atividade de
abastecedora de peixes e mariscos para a cidade do Rio de Janeiro e dedicar-se
exclusivamente ao turismo.
Nascido em 01
de maio de 1829, em Messejana - Ceará, José Martiniano de Alencar (José de Alencar) cursou advocacia, mas logo tornou-se político,
jornalista e escritor. E com esta última atividade, ele obteve reconhecimento
que o elevou ao patamar do maior romancista brasileiro. Alencar criou -
com singularidade - uma literatura nacionalista, empregando um vocábulo e uma
sintaxe típicos do Brasil, evitando o estilo lusitano que, até então,
prevalecia no mundo literário da época.
Sua obra traça um perfil da cultura e dos costumes do período em que viveu, bem como da História do Brasil. É fácil percebermos a preocupação do autor com a identificação nacional, seja escrevendo a respeito da sociedade burguesa do Rio de Janeiro ou para temas que abordam questões ligadas ao índio e ao sertanejo. Com isto, seus romances foram classificados em quatro categorias: urbanos, históricos, indianistas e regionalistas.
Nos romances urbanos, prevalece a análise do caráter psicológico
das personagens femininas, revelando seus conflitos interiores. Destaco, então,
cinco romances com estas características: "Cinco Minutos" (1860), "A Viuvinha"
(1860), "Lucíola" (1862), "Diva" (1864),
"Senhora" (1875) dentre
outros.
"Lucíola
é o romance de José de Alencar e o primeiro da trilogia que ele denominou de
"Perfis de Mulher". Integra o conjunto da ficção urbana do grande
romancista aquela em que ele fixou o Rio de Janeiro da época, com a sua
fisionomia burguesa e tradicional, com uma sociedade endinheirada que
frequentava o Lírico, passeava à tarde na Rua do Ouvidor e à noite no Passeio
Público, morava no Flamengo, Botafogo ou Santa Teresa, e era protagonista de
ousado dramas de amor que iam do simples namoro contrariado à paixão
desvairada.
Lucíola foi um romance ousado para a época; seu tema escandalizou os leitores e
a sociedade de então, pois contava a história ainda não colocada até então em
termos de literatura entre nós - a prostituição. Apesar das roupagens
românticas, a personagem era boa de coração, demonstrando isso na abnegação e
no estoicismo com que se sacrificou por sua família, não seria tão fácil a
aceitação de um livro como esse, que desvendava, em cenas íntimas e descrições
bem marcantes, a vida de alcova de uma famosa mundana. E ainda mais, fazia
dessa "pecadora" uma vítima da sociedade e a redimia de tudo,
mostrando a face nobre do seu caráter.
Não se chama Lucíola a heroína, como seria de se esperar, mas apenas Lúcia.
"Lucíola - explica o prefácio - é o lampiro noturno que brilha de uma luz
tão viva no meio da relva e à beira dos charcos. Não será a imagem verdadeira
da mulher que no abismo da perdição conservava a pureza da alma?"
"Senhora" é considerado o mais importante desta
relação. Na narrativa, o autor mostra a hipocrisia da sociedade
fluminense durante o Segundo Império. E,
através do romance entre Aurélia Camargo e Fernando Seixas, Alencar leva o leitor a refletir a
respeito da influência do dinheiro nas relações amorosas e, principalmente, sua
influência nos casamentos da
época. O romance divide-se
em quatro partes, que correspondem às etapas de uma transação comercial: Preço, Quitação, Posse e Resgate.
"Seu enredo gira em torno de uma estranha e voluntariosa menina-moça que
aspirava ao amor ideal e sonhava entregar seu coração somente àquele que
ultrapassasse os limites do amor banal e a quisesse com frenética paixão.
Emília era seu nome, e a história começa quando ela tinha catorze anos e era,
como descreve o autor, "uma menina muito feia, mas da lealdade núbil que
promete à donzela esplendores de beleza".
Há meninas - diz o personagem contando seu drama a um confidente - que se fazem
mulheres como as rosas passam de botão a flor: desabrocham. Outras saem das
faixas como os colibris da gema: enquanto não emplumam são monstrinhos; depois
tornam-se maravilhas ou primores. Era Emília um colibri implume; por
conseguinte, um monstrinho.
Pois essa menina feia, pouco depois, quando vai reencontrá-la o herói da
história, era já uma linda moça, como a descreveu o romancista: "Era alta
e esbelta. Tinha um desses talhes flexíveis e lançados, que são hastes de lírio
para o rosto gentil; porém na mesma delicadeza do porte esculpiam-se os
contornos mais preciosos com firme nitidez das linhas e uma deliciosa suavidade
nos relevos. Não era alva, também não era morena. Tinha na tez a cor das
pétalas da magnólia, quando vão se desfalecendo ao beijo do sol. Mimosa cor de
mulher, se a aveluda a pubescência infantil, e a luz coa pelo fino tecido, e um
sangue puro a escumilha de rôseo matiz. A dela era assim".
Através dos romances
indianistas, o autor explora e ressalta as tradições
indígenas para a ficção, relatando mitos, lendas, festas, usos e
costumes. No entanto, o índio é visto de forma idealizada, representando - de
maneira simbólica - a origem do povo brasileiro. O homem branco (europeu) é tido
como o "aquele que corrompe" e o índio "o bom selvagem",
destacando seu bom caráter,
valentia e pureza. Aqui destaco: O Guarani (1857), Iracema
(1865) e Ubirajara (1874).
Em "O Guarani", Alencar narra a história do amor proibido entre o índio
Peri e a jovem branca Ceci .
O
relacionamento acaba se concretizando com o consentimento do pai da moça, o
colonizador Dom Antônio, graças ao ataque dos índios Aimorés à
fortaleza de sua família. É quando o fidalgo pede a Peri que salve sua filha.
Em 1991, o
romance ganhou versão para série de Tv pela extinta Rede Manchete. Tendo no
elenco Angélica (Ceci) e Leonardo Bricio (Peri).
Em 1996, o romance ganhou a versão cinematográfica. No elenco
Marcio Garcia (Peri) e Tatiana Issa (Ceci).
Publicado em 1865, o romance é
conhecido como a "lenda do Ceará" para explicar poeticamente as
origens da sua terra natal, o Ceará, registrando todo o seu amor, o seu carinho
que há tantos anos não via.
Iracema, a "virgem dos lábios de mel", pertence à tribo Tabajara,
filha de Araquém, pajé da tribo que dominava o interior do Ceará, especialmente
a Serra de Ibiapaba. Seu nome significava em guarani "lábios de mel".
Sua função como filha do pajé, era guardar o segredo da Jurema, como "virgem
de Tupã", função sagrada, e por isso não poderia amar um homem. Aquele que
a possuísse morreria.
A descrição que o autor fez da linda indígena é a mais bela em língua
portuguesa, pois nenhuma mulher jamais recebeu tantos elogios e tropos poéticos
de exaltação, espalhados por todo o livro. Ela era "a virgem dos lábios de
mel", que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos
que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a
baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado".
Jaguarê é um jovem caçador da
tribo Araguaia caminhando em busca de um adversário de valor a quem possa
vencer para se tornar um verdadeiro guerreiro de sua tribo. Ao descansar à
sombra de uma árvore Jaguarê vê uma jovem índia da tribo Tocantim que lhe diz
que o guerreiro que a quiser por esposa terá que combater com os pretendentes
da tribo Tocantim. Araci se afasta e Jaguarê volta ao descanso.
Aparece então Pojucã, forte guerreiro, a quem Jaguarê vence e leva prisioneiro
para sua tribo. Jaguarê se torna guerreiro com o nome de Ubirajara, recebe do
cacique, seu pai Camacan, o comandante da tribo e se prepara para se casar com
Jandira, sua prometida.
Ubirajara, no entanto, não se esquece de Araci e resolve partir para se casar
com ela. Pojucã pede a Ubirajara que lhe dê uma morte digna de um
guerreiro. Ubirajara o atende e lhe destina Jandira para esposa de túmulo,
segundo os costumes da tribo. Jandira, que só amava o grande chefe, foge da
floresta.
Ubirajara chega à aldeia tocantim, é recebido e tratado como hóspede,
recebendo o nome de Jurandir e contando a todos suas lutas e
conhecimentos. Jurandir declara ao chefe Itaquê que deseja ser esposo de
Araci e como pretendente dispõe-se a trabalhar e a lutar para conseguir seu
intento. Então, Araci saiu para caçar e no meio da mata aparece Jurandir
segurando Jandira e entregando-a a Araci como escrava que não aceitou ser
libertada, desejando fazer a vontade de Ubijarara.
Nos romances históricos os leitores podem encontrar
fatos marcantes da colonização descritos como
a busca pelo ouro e as lutas pela expansão territorial. Em vários momentos
podemos perceber o nacionalismo exacerbado e o orgulho pela
construção da pátria. Destaque para "As Minas de Prata"
(1865), "Alfarrábios" (1873), "A guerra dos mascates"
(1873).
Enfim, os romances regionalistas em que, facilmente, o leitor pode identificar as características
que envolvem o cotidiano da vida no campo, a cultura popular e a beleza
exótica e natural das regiões mais afastadas do Brasil, que - ainda - não
sofreram influência européia. É importante ressaltar que nos romances
regionalistas - em oposição aos romances urbanos - os homens recebem destaque
com toda sua rudeza e coragem para enfrentar os desafios da vida. E as mulheres
aqui tem desempenham papéis secundários. Sendo assim, destacamos: "O gaúcho" (1870), "O tronco do Ipê" (1871) e
"O sertanejo" (1876). Com
estes romances o autor focou os pampas, o interior paulista e o sertão
nordestino, sempre buscando a diversidade regional.
"Os Heróis morrem cedo"...E com José de Alencar não foi diferente. O autor faleceu, na cidade do Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 1877, aos 48 anos, vítima de tuberculose.
Lauro é expulso da casa de seu tio
Hugo, acusado de ter roubado a cruz da família. Lauro se vai e promete voltar
para descobrir o verdadeiro ladrão.
Depois de algum tempo, Honorina começa a receber cartas de um apaixonado. Este
rapaz aparece a Honorina nas situações mais desconcertantes. Às vezes, o Moço
Loiro ( como ela o chamava ) aparece cantando, outras apenas a observá-la e
certa vez chegou a salvá-la de morrer afogada. Honorina foi se interessando por
ele e acabou se apaixonando pelo Moço Loiro.
O Moço Loiro descobre ainda que Félix, filho adotivo dos Mendonça, é o
verdadeiro ladrão, e, disfarçado de velho, convence-o a revelar a verdade e a
desmascarar Otávia, que forçava o pai de Honorina a permitir seu casamento com
ele, ameaçando-o com uns títulos falsos.
Honorina, que já pensava em aceitar o casamento com Otávio para livrar o
pai da falência, recebe uma carta de Lauro, que fizera fortuna, pedindo-a em
casamento. Recebe também uma carta do Moço Loiro que, despedindo-se dela
definitivamente, aconselha-a a aceitar a proposta de Lauro. Félix confessa ser
o autor do roubo e desmascara Otávio.
De retorno, Lauro é recebido calorosamente e Honorina tem uma grande surpresa:
Lauro e o Moço Loiro são a mesma pessoa.
A Escrava Isaura (1875), de Bernardo Guimarães – “Este romance apresenta a
trajetória de Isaura, escrava paradoxalmente clara que é perseguida por seu
senhor, Leôncio. Após fugir para o Nordeste, Isaura conhece e apaixona-se por
Álvaro. O desfecho do romance é mais que feliz: Álvaro liberta Isaura das mãos
de Leôncio ao pagar dívidas deste e tomar-lhe os bens. Vale lembrar que a obra
obteve importância em sua trajetória por tratar de um tema polêmico para a
época: a escravidão”.
Até
hoje, este é um dos romances favoritos do público brasileiro. Seu sucesso
atual não surpreenderia aqueles que testemunharam em 1875 a estrondosa reação
do público leitor que se encontrava cada vez mais familiarizado com romances de
aventuras num cenário brasileiro.
A história se passa
numa grande fazenda fluminense na cidade de Campos dos Goitacazes. O
romance aparece quatro anos depois da Lei do Ventre Livre. A escravidão
serve mais como impedimento no desenvolvimento do romance, do que como assunto
a ser abordado contra ou a favor. Bernardo Guimarães, joga com a
aceitação da mulher de pele clara, como demonstração do preconceito de raça.
Enquanto que a escravidão simplesmente existe. Há algumas poucas
falas de estudantes abolicionistas, mas não são mais do que um aceno, uma batida
na aba do chapéu, que Bernardo Guimarães dá ao movimento abolicionista. A
divisão da sociedade, a mostra da irracionalidade da escravidão, estão
centradas na cor da pele da escrava. Bernardo Guimarães remove a
máscara da sociedade brasileira e mostra a falsidade de seus
preconceitos. Realça a fragilidade e a dualidade da posição
pró-escravidão, numa sociedade que já se caracterizava como miscigenada.
"O Seminarista" é um
romance de cunho rural e psicológico que mostra o drama de Eugênio e Margarida.
Ele, filho de fazendeiro, é obrigado a ingressar num seminário para ser padre.
Ela, pobre e bela menina que se criou na fazenda do pai de Eugênio, corresponde
à amizade, ao amor e à paixão que este lhe devotava.
Acreditando na falsa história de que Margarida havia fugido com outro, Eugênio
abandona a ideia de deixar o seminário e tornar-se sacerdote. Voltando a sua
cidade, já ordenado, para celebrar a primeira missa, Eugênio encontra
Margarida à morte e fica sabendo da diabólica trama de seu pai para evitar a
união dos dois.
Na hora da missa, ao ver entrar na igreja o caixão com o corpo de
Margarida, Eugênio rasga as roupas sacerdotais e larga em desabalada carreira.
Ficara louco!
A história de Pernambuco conta-nos
muitas histórias de heroísmo e maldade. Muitos homens se tornaram lenda por sua
audácia e crueldade; entre esses está José Gomes, o famoso Cabeleira, que
durante muitos anos espalhou o terror pelo nordeste brasileiro.
José Gomes era filho de Joaquim, sujeito malvado, dado à prática de crimes e de
Joana, exemplo vivo de bondade.
José era um menino bom e amoroso, mas os péssimos exemplos do pai converteram-no
num bandido. Joana queria que o filho fosse um homem bom e digno, enquanto que
Joaquim queria levá-lo para o banditismo; por isso os dois viviam brigando, até
que um dia Joaquim resolveu abandonar a mulher, levando consigo o filho.
Inocência (1872), de Visconde de Taunay – “Uma das mais exploradas temáticas
do Romantismo é a do amor proibido. Essa é a tônica do romance Inocência, que
explora a paixão entre os personagens Cirino, um falso médico que atendia no
interior do Brasil; e Inocência, jovem prometida por seu pai a um morador da
região, Manecão Doca. Num desfecho trágico, a morte de Cirino impede a
consagração do amor e, provavelmente, serve como motivador para a morte da
melancólica Inocência”.
Inocência foi o segundo romance publicado por Alfredo
d’Escragnolle Taunay em 1872 e o terceiro livro. Antes, ele havia
publicado em francês, La Retraite de Lagune,
em 1871, que foi mais tarde traduzido para o português por Salvador Mendonça em
1874. A
Retirada da Laguna: ocorrida entre 08 de Maio e 11 de Junho de
1867, durante a Guerra do Paraguai, teve início na fazenda Laguna, no Paraguai,
e percorreu uma vasta área compreendida pelos actuais municípios de Bela Vista,
Antônio João, Guia Lopes e Nioaque, no território do atual Estado do Mato
Grosso do Sul. Esta “reportagem” histórica por si só já teria
garantido um lugar nas história das letras brasileiras ao futuro Visconde de
Taunay, não tivesse ele outros e muitos atributos com os quais enriqueceu o
panorama intelectual do Brasil. O romance A Mocidade de
Trajano, havia sido publicado em 1871, sob o pseudônimo Sílvio
Dinarte, um de muitos pseudônimos que usou durante sua carreira literária.
O romance Inocência é justamente localizado no interior do
Brasil, em região conhecida por Taunay nas suas perambulações como
engenheiro militar e oficial do exército na Campanha do
Paraguai. É uma história que se desentola na confluência
dos Estados de Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás e São Paulo.